O gênero lírico é caracterizado como uma expressão do "eu" (primeira pessoa: sujeito lírico; função emotiva da linguagem). Ele representa a verdadeira essência do coração, a voz que se manifesta no poema, nem sempre correspondendo à do autor. É principalmente a valorização de um sentimento pessoal, revelando assim o chamado "eu-lírico", cujo propósito é expressar toda a subjetividade como emoções, pensamentos, estados da alma e, enfim, o mundo interior do poeta. A musicalidade desempenha um papel importante no texto lírico, sendo o aspecto que mais explora a sonoridade. Embora o lirismo também possa ocorrer na prosa, representando uma percepção poética da realidade, a expressão mais direta e natural do gênero lírico é encontrada na poesia.
A palavra lírico, assim como o termo relacionado lirismo, tem origem na lira (instrumento musical de cordas utilizado desde a Antiguidade clássica para acompanhar composições poéticas que eram cantadas em voz alta). No final da Idade Média, quando o texto se separou da música, a poesia passou a ter uma estrutura mais elaborada, incluindo métrica (medida de um verso, definida pelo número de sílabas poéticas), ritmo das palavras, divisão em estrofes, rima e combinação de palavras. A composição lírica geralmente é curta e utiliza versos, recorrendo quase sempre à melodia e aos recursos da linguagem poética.
Para compreender a poesia lírica, é importante esclarecer que seu conteúdo não é o mundo objetivo, real e tangível, mas sim os sentimentos que ele desperta no leitor. A linguagem poética é muito particular e requer certo envolvimento e familiaridade para ser compreendida, o que só é possível por meio de uma leitura atenta e frequente de poemas. Ao mergulhar em si mesmo e expressar seus sentimentos, o poeta adota uma postura múltipla, falando por aqueles que se sentem da mesma forma, mas muitas vezes não conseguem expressar seus próprios sentimentos. Não é nessa necessidade e encanto da poesia que reside sua importância?
A busca insensata
Saindo a minha procura
Fui por caminhos travessios
E vales e rios.
Pisei areias inumeráveis,
Bebi em muitos mananciais
E em sonhos escalei
Penedos que eram ninhos de relâmpagos.
Mas a minha sede — a de ser eu mesmo —
Não se saciou jamais.
(Ledo Ivo)
É evidente que o poeta cria um eu lírico que fala de seu mundo interior, ansioso por se conhecer e compreender a si mesmo. Ele se manifesta em versos livres (aqueles que não se preocupam com métrica, rima ou estrofes) e brancos (sem rima), fazendo uso e abuso da polissemia (uma mesma palavra com vários significados) e da conotação.
0 Comentários