TEXTO VIII
Sinha Vitória
Sinha Vitória tinha amanhecido nos seus azeites. Fora de propósito, dissera ao marido umas inconveniências a respeito da cama de varas. 1Fabiano, que não esperava semelhante desatino, apenas grunhira: - “Hum! hum!” E amunhecara, porque realmente mulher é bicho difícil de entender, 4deitara-se na rede e pegara no sono. Sinha Vitória andara para cima e para baixo, procurando em que desabafar. Como achasse tudo em ordem, queixara-se da vida. 2E agora vingava-se em Baleia, dando-lhe um pontapé.
Avizinhou-se da janela baixa da cozinha, viu os meninos entretidos no barreiro, sujos de lama, fabricando bois de barro, que secavam ao sol, sob o pé-de-turco, e 5não encontrou motivo para repreendê-los. Pensou de novo na cama de varas e mentalmente xingou Fabiano. Dormiam naquilo, tinha-se acostumado, mas sena mais agradável dormirem numa cama de lastro de couro, como outras pessoas.
7Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido. 3Fabiano a princípio concordara com ela, mastigara cálculos, tudo errado. Tanto para o couro, tanto para a armação. Bem. Poderiam adquirir o móvel necessário economizando na roupa e no querosene. 6Sinha Vitória respondera que isso era impossível, porque eles vestiam mal, as crianças andavam nuas, e recolhiam-se todos ao anoitecer. Para bem dizer, não se acendiam candeeiros na casa.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro; São Paulo: Record; Martins, 1975. p. 42-43.
1. (Uff) A partir do texto acima, identifique a alternativa que contém a característica correta em relação à análise da obra de Graciliano Ramos e à sua inclusão na ficção regionalista dos anos 30.
a) Valorização do espaço urbano e das relações de poder.
b) Ênfase em aspectos pitorescos da paisagem nordestina.
c) Utilização de linguagem predominantemente metafórica.
d) Atitude crítica e comprometida frente à realidade social.
e) Opção preferencial por personagens pertencentes à classe dominante.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Texto I
Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos [...]. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam [...].
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo 1abrasileirou-se.
Aluísio Azevedo, O cortiço
Texto II
Atravessa a vida entre ciladas, surpresas repentinas de uma natureza incompreensível, e não perde um minuto de tréguas. É o batalhador perenemente combalido e exausto, perenemente audacioso e forte [...]. Reflete, nestas aparências que se contrabatem, a própria natureza que o rodeia.
Euclides da Cunha, Os sertões
Texto III
Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia.
Graciliano Ramos, Vidas secas
2. (Mackenzie) No texto III, a descrição do personagem Fabiano aponta para as seguintes características, EXCETO:
a) adaptação do personagem ao meio natural.
b) identificação com o animal.
c) caráter antissocial.
d) comportamento primitivo e espontâneo.
e) revolta devido a sua condição familiar.
3. (G1 - cftmg) Considere os seguintes itens, nos quais, em passagens extraídas do romance Vidas secas de Graciliano Ramos, identifica-se o procedimento do narrador ao reproduzir as falas dos personagens.
I. “Nesse ponto um soldado [...] bateu familiarmente no ombro de Fabiano: - Como é camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro?” (discurso direto)
II. “Tinham deixado os caminhos, cheios de espinhos e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés.” (discurso indireto)
III. “Isso lhe dera uma impressão bastante penosa: sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saia logrado.” (discurso direto)
IV. “Agora [Fabiano] queria entender-se com Sinhá Vitoria a respeito da educação dos pequenos. E eles estavam perguntadores, insuportáveis. Fabiano dava-se bem com a ignorância. Tinha o direito de saber? Tinha? Não tinha.” (discurso indireto livre)
A identificação foi feita corretamente em
a) I e II.
b) I e IV.
c) II e III.
d) III e IV.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES:
As questões a seguir tomam por base uma passagem do romance regionalista Vidas secas,de Graciliano Ramos (1892-1953).
Contas
Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos cabritos. Mas como não tinha roça e apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e milho, comia da feira, desfazia-se dos animais, não chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um cabrito.
Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes.
Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco. Transigindo com outro, não seria roubado tão descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era bom pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta, vermelho, o pescoço inchando. De repende estourava:
– Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver sem comer. Quem é do chão não se trepa.
Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano. E quando não tinha mais nada para vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e na hora das contas davam-lhe uma ninharia.
Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se, enfim deixou a transação meio apalavrada e foi consultar a mulher. Sinha Vitória mandou os meninos para o barreiro, sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias espécies, realizou somas e diminuições. No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio notou que as operações de Sinha Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de juros.
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que, o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem.
Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da mulher, provavelmente devia ser ignorância da mulher. Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler (um bruto, sim senhor), acreditara na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava não cair noutra.
(Graciliano Ramos. Vidas secas. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.)
4. (Unesp) Quem é do chão não se trepa.
Fabiano emprega duas vezes este provérbio para retratar com certo determinismo sua situação, que ele considera impossível de ser mudada. Há outros que poderiam ser utilizados para retratar essa atitude de desânimo ante algo que parece irreversível.
Na relação de provérbios abaixo, aponte aquele que não poderia substituir o empregado por Fabiano, em virtude de não corresponder àquilo que a personagem queria significar.
a) Quem nasce na lama morre na bicharia.
b) Quem semeia ventos colhe tempestades.
c) Quem nasceu pra tostão não chega a milhão.
d) Quem nasceu pra ser tatu morre cavando.
e) Os paus, uns nasceram para santos, outros para tamancos.
5. (Unesp) Lendo atentamente o fragmento de Vidas secas, percebe-se que o foco principal é o das transações entre Fabiano e o proprietário da fazenda. Aponte a alternativa que não corresponde ao que é efetivamente exposto pelo texto.
a) O proprietário era, na verdade, um benfeitor para Fabiano.
b) Fabiano declarava-se “um bruto” ao proprietário.
c) O proprietário levava sempre vantagem na partilha do gado.
d) Fabiano sabia que era enganado nas contas, mas não conseguia provar.
e) Fabiano aceitava a situação e se resignava, por medo de ficar sem trabalho.
6. (Unesp) Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano.
A forma verbal queimava, no período acima, apresenta o sentido de:
a) ignorava.
b) assava.
c) destruía.
d) marcava.
e) prejudicava.
7. (Unesp) Identifique, entre os quatro exemplos extraídos do texto, aqueles que se apresentam em discurso indireto livre:
I. Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos cabritos.
II. – Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver sem comer.
III. Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!
IV. Não era preciso barulho não.
a) I e II.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.
8. (Ibmecrj) Em 2008, o Brasil celebra a memória de Joaquim Maria Machado de Assis, o "Bruxo do Cosme Velho", que morreu há cem anos, no dia 29 de setembro, já reconhecido como o maior escritor brasileiro. Revisitar a obra de Machado pensada em seu conjunto é redescobrir um dos estilos mais originais e modernos da literatura universal.
TEXTO I
Esse texto é o último capítulo de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, obra que inaugura uma segunda etapa da produção de Machado.
Capítulo CLX - DAS NEGATIVAS
[...]
1Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, 2coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de dona Plácida, nem a semidemência de Quincas Borba. 3Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque 4ao chegar a esse outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - 9Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
("Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis)
TEXTO II
O texto a seguir foi retirado da obra de Graciliano Ramos, "Vidas Secas". Esse romance completou, em agosto de 2008, 70 anos de sua primeira publicação. É narrado em 3a pessoa (ao contrário das obras anteriores de Graciliano) e pertence a um gênero intermediário entre romance e livro de contos.
Fabiano, uma coisa da fazenda, 1um triste, seria despedido quando menos esperasse. Ao ser contratado, recebera o cavalo de fábrica, peneiras, gibão, guarda-peito e sapatões 3de couro, mas ao sair largaria tudo ao vaqueiro 7que o substituísse.
Sinhá Vitória desejava possuir uma cama igual à de seu Tomás da bolandeira. Doidice.
Não dizia nada para não contrariá-la, mas sabia que era doidice. Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de passagem.
Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles ganhariam o mundo, sem rumo, nem teria meio de conduzir os cacarecos. Viviam de trouxa amarrada, dormiriam bem debaixo de um pau.
Olhou a caatinga 4amarela, 5que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta 2verde. Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera.
E antes de se entender, antes de nascer, 8sucedera o mesmo - anos bons, misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando 6seixos 9com as alpercatas - ela se avizinhando 10a galope, com vontade de matá-lo.
("Vidas Secas" - Graciliano Ramos)
Os dois textos da narrativa brasileira lidos possuem um tema recorrente. Assinale a opção que contém esse tema.
a) O entusiasmo de Machado pelo país e pelo povo brasileiro e a falta de entusiasmo pelo país no texto de Graciliano.
b) O ácido humor do povo brasileiro apresentado pelos personagens das duas obras.
c) A morte como um instrumento de interpretação do mundo em Memórias Póstumas e, em, Vidas Secas, descrita como degradação social.
d) A falta de sintonia com a realidade presente nos personagens das duas obras.
e) Os conflitos no ambiente familiar retratados nos dois romances.
9. (Pucsp) Alguns dias antes estava sossegado, preparando látegos, consertando cercas. De repente, um risco no céu, outros riscos, milhares de riscos juntos, nuvens, o medonho rumor de asas a anunciar destruição. Ele já andava meio desconfiado vendo as fontes minguarem. E olhava com desgosto a brancura das manhãs longas e a vermelhidão sinistra das tardes.
O crítico Álvaro Lins, referindo-se a "Vidas Secas", obra de Graciliano Ramos, da qual se extraiu o trecho anterior, afirma que, além de ser o mais humano e comovente dos livros do autor, é "o que contém maior sentimento da terra nordestina, daquela parte que é áspera, dura e cruel, sem deixar de ser amada pelos que a ela estão ligados teluricamente". Por outro lado, merece destaque, dentre os elementos constitutivos dessa obra, a paisagem, a linguagem e o problema social.
Assim, a respeito da linguagem de "Vidas Secas", é CORRETO afirmar-se que:
a) Apresenta um estilo seco, conciso e sem sentimentalismo, o que retira da obra a força poética e impede a presença de características estéticas.
b) Caracteriza-se por vocabulário erudito e próprio dos meios urbanos, marcado por estilo rebuscado e grandiloquente.
c) Revela um estilo seco, de frase contida, clara e correta, reduzida ao essencial e com vocabulário meticulosamente escolhido.
d) Apresenta grande poder descritivo e capacidade de visualização, mas apóia-se em sintaxe marcada por períodos longos e de estrutura subordinativa, o que prejudica sua compreensão.
e) Marca-se por estilo frouxo e sintaxe desconexa, à semelhança da própria estrutura da novela que se constrói de capítulos soltos e ordenação circular.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Texto I
Agora Fabiano conseguia arranjar as ideias. O que o segurava era a família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não. (...) Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria continuar a arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo.
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23ª ed., 1969, p. 75.
Texto II
Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. Não há solução fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no campo da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, que Graciliano vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma estrutura romanesca, uma constituição de narrador em que narrador e criaturas se tocam, mas não se identificam. Em grande medida, o debate acontece porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a despeito de aparecer idealizado em certos aspectos, ainda é visto como um ser humano de segunda categoria, simples demais, incapaz de ter pensamentos demasiadamente complexos. O que "Vidas Secas" faz é, com pretenso não envolvimento da voz que controla a narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que essas pessoas seriam plenamente capazes.
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Paulo: USP, nº 2, 2001, p. 254.
10. (Enem) A partir do trecho de "Vidas Secas" (texto I) e das informações do texto II, relativas às concepções artísticas do romance social de 1930, avalie as seguintes afirmativas.
I. O pobre, antes tratado de forma exótica e folclórica pelo regionalismo pitoresco, transforma-se em protagonista privilegiado do romance social de 30.
II. A incorporação do pobre e de outros marginalizados indica a tendência da ficção brasileira da década de 30 de tentar superar a grande distância entre o intelectual e as camadas populares.
III. Graciliano Ramos e os demais autores da década de 30 conseguiram, com suas obras, modificar a posição social do sertanejo na realidade nacional.
É correto apenas o que se afirma em
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.
11. (Enem) No romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano encontra-se com o patrão para receber o salário. Eis parte da cena:
1Não se conformou: devia haver engano. (...) Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, 2e Fabiano perdeu os estribos. 3Passar a vida inteira assim no toco, 4entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria?
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
5Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não.
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91a ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.
No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem convive com marcas de regionalismo e de coloquialismo no vocabulário. Pertence à variedade do padrão formal da linguagem o seguinte trecho:
a) "Não se conformou: devia haver engano" (ref. 1).
b) "e Fabiano perdeu os estribos" (ref. 2).
c) "Passar a vida inteira assim no toco" (ref. 3).
d) "entregando o que era dele de mão beijada!" (ref. 4).
e) "Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou" (ref. 5).
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio notou que as operações de Sinha Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de juros.
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!
(Graciliano Ramos, Vidas secas)
12. (Puccamp) Em outra passagem de "Vidas secas", Fabiano é assim descrito: "(...) tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos."
Tendo em vista essa descrição, a frase "havia um erro no papel DO BRANCO"
a) é um lapso do autor, já que o tipo racial do patrão não é diferente do de Fabiano.
b) demonstra que Fabiano se serve da ironia para tentar desqualificar o patrão.
c) só se justifica pelo desejo que tem Fabiano de ser tratado como um igual.
d) justifica-se quando associada às expressões "era bruto" e "trabalhar como negro".
e) prova que o patrão se valia de fatores raciais para se impor diante do caboclo.
13. (Ufrgs) Leia o fragmento abaixo, extraído de "Vidas Secas", de Graciliano Ramos.
"Olhou a caatinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender, antes de nascer, sucedera o mesmo - anos bons misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando seixos com as alpercatas - ela se avizinhando a galope, com vontade de matá-lo.
Virou o rosto para fugir à curiosidade dos filhos, benzeu-se. Não queria morrer. Ainda tencionava correr o mundo, ver terras, conhecer gente importante como seu Tomás da bolandeira. Era uma sorte ruim, mas Fabiano desejava brigar com ela, sentir-se com força para brigar com ela e vencê-la. Não queria morrer. Estava escondido no mato como tatu. Duro, lerdo como tatu. Mas um dia sairia da toca, andaria com a cabeça levantada, seria homem.
- Um homem, Fabiano.
Coçou o queixo cabeludo, parou, reacendeu o cigarro. Não, provavelmente não seria um homem: seria aquilo mesmo a vida inteira, cabra, governado pelos brancos, quase uma rês na fazenda alheia."
Considere as seguintes afirmações sobre o fragmento acima.
I - Interessa ao narrador registrar, além da tragédia natural provocada pela seca, a opressão social que recai sobre Fabiano.
II - Para não demonstrar seus sentimentos diante da proximidade da desgraça, Fabiano evita o olhar dos filhos.
III - Fabiano tenta compreender o mundo, mas, respondendo ao conflito interno, rebela-se contra o seu destino.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
14. (Ufrrj) Escrito por Graciliano Ramos em 1938, "Vidas Secas" é uma obra-prima do modernismo e mesmo de toda a literatura brasileira. Trata-se de narrativa pungente, onde o drama do nordestino, tangido de seu lar pela inclemência da seca, é contado de forma árida, seca e bastante realista, numa sintonia bastante eficaz entre forma e conteúdo.
O texto a seguir é um excerto de "Vidas Secas":
"Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera. E antes de se entender, antes de nascer, sucedera o mesmo - anos bons misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando seixos com as alpercatas - ela se avizinhando a galope, com vontade de matá-lo."
RAMOS, Graciliano. "Vidas Secas". São Paulo: Martins. s/d. 28a ed., p. 59.
Assinale a afirmativa que indica uma característica do modernismo e do estilo do autor, tomando por base a leitura do texto.
a) Há um extremo apuro formal, onde se destacam as metáforas, sobretudo as hipérboles, em absoluta consonância com a prolixidade do texto.
b) O estilo direto do texto está sintonizado com a narrativa, que descreve uma cena de grande movimentação e presença de personagens.
c) O texto é seco e direto, confrontando um cenário de exuberância natural com um personagem tímido, reservado e de poucas ambições.
d) O texto é direto, econômico, interessa mais a angústia interior dos personagens do que seus próprios atos.
e) A fatalidade da situação é explorada ao limite máximo, com a natureza pactuando com as angústias do personagem, mas, ao final, subjugando-se.
15. (Ufrrj) Leia o fragmento abaixo, retirado do romance "Vidas secas":
... Na palma da mão as notas estavam úmidas de suor. Desejava saber o tamanho da extorsão. Da última vez que fizera contas com o amo o prejuízo parecia menor. Alarmou-se. Ouvira falar em juros e em prazos. Isto lhe dera uma impressão bastante penosa: sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas. Às vezes decorava algumas e empregava-as fora de propósito. Depois esquecia-as. Para que um pobre da laia dele usar conversa de gente rica? Sinhá Terta é que tinha uma ponta de língua terrível. Era: falava tão bem quanto as pessoas da cidade. Se ele soubesse falar como Sinhá Terta, procuraria serviço em outra fazenda, haveria de arranjar-se. Não sabia. Nas horas de aperto dava para gaguejar, embaraçava-se como um menino, coçava os cotovelos, aperreado. Por isso esfolavam-no. Safados. Tomar as coisas de um infeliz que não tinha nem onde cair morto! Não viam que isso não estava certo? Que iam ganhar com semelhante procedimento? Hem? Que iam ganhar? ...
RAMOS, Graciliano. "Vidas secas". 37a ed. Rio de Janeiro: Record, 1977. p.103.
Graciliano Ramos apresenta em suas obras problemas do Nordeste do Brasil e, ao mesmo tempo, desenvolve um trabalho universal por apresentar uma visão crítica das relações humanas. A partir do trecho acima, pode-se afirmar que o autor
a) denuncia a opressão social realizada através do abuso de poder político, que está representado na fala de Fabiano.
b) critica o trabalhador rural nordestino, representado na figura de Fabiano, por sua ignorância e falta de domínio da língua culta.
c) deixa claro que a incapacidade de usar uma linguagem "boa" não isola Fabiano do mundo dos que usam "palavras difíceis", pois sua esperteza pode-se concretizar de outras maneiras.
d) mostra que a sociedade oferece oportunidades iguais para os que possuem o domínio de uma linguagem culta e para os que não possuem, e as pessoas mais trabalhadoras atingirão o posto de classe dominante.
e) mostra a relação estreita entre linguagem e poder, denunciando a opressão ao trabalhador nordestino, transparente nas diferenças entre a língua falada pelo opressor e a falada pelo oprimido.
Gabarito:
Resposta da questão 1: [D]
Resposta da questão 2: [E]
Resposta da questão 3: [B]
Resposta da questão 4: [B]
Resposta da questão 5: [A]
Resposta da questão 6: [D]
Resposta da questão 7: [C]
Resposta da questão 8: [C]
Resposta da questão 9: [C]
Resposta da questão 10: [D]
Resposta da questão 11: [A]
Resposta da questão 12: [D]
Resposta da questão 13: [E]
Resposta da questão 14: [D]
Resposta da questão 15: [E]
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