1. (UFG – 2013/1) - Leia os poemas apresentados a seguir.
MALVA-MAÇÃ
A P...
De teus seios tão mimosos
Quem gozasse o talismã!
Quem ali deitasse a fronte
Cheia de amoroso afã!
E quem nele respirasse
A tua malva-maçã!
Dá-me essa folha cheirosa
Que treme no seio teu!
Dá-me a folha… hei de beijá-la
Sedenta no lábio meu!
Não vês que o calor do seio
Tua malva emurcheceu...
[...]
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização
de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 269.
Há uma flor que está em redor de mim,
uma flor que nasce nos cabelos da aurora
e desce sobre as águas e os ombros
de todos nós. Não, não quero amar
senão a natureza quando ela se abre
como uma flor e suas corolas à madrugada;
eu não quero amar, senão a mulher
que está em redor de mim, a mulher
que me acolhe com seus braços
e me oferece o que há de mais íntimo,
a sua pérola e sonho à madrugada.
GARCIA, José Godoy. Poesia. Brasília: Thesaurus, 1999. p. 153.
Nos poemas transcritos, a representação da figura feminina se assemelha por apresentar
a) a sensualidade da mulher metaforizada pelos elementos da natureza.
b) a idealização de uma mulher única enfatizada pela fidelidade do eu lírico.
c) o distanciamento da mulher exemplificado por sua indiferença aos apelos do eu lírico.
d) a simplicidade da mulher evidenciada por suas qualidades morais.
e) o exotismo da mulher emoldurado pela descrição de um cenário idílico.
Comentário:
Antes de qualquer coisa, é importante entender que o termo “malva-maçã”, que serve de título ao poema de Álvares de Azevedo, é o nome de uma planta. Sua folha tem o formato abaixo:
Nos versos de Álvares de Azevedo, o vegetal representa a musa; além disso, beijar essa folha, que estivera no seio da mulher amada, é imaginar-se próximo do ser idealizado.
Nos versos de José Godoy Garcia, há também a relação entre a natureza e a sensualidade da pessoa amada; no entanto, no poeta modernista, diferentemente do que acontece em Álvares de Azevedo, há uma proximidade física entre o eu-lírico e a mulher desejada, como comprova o verso: “que me acolhe com seus braços”.
Alternativa A (Certa) – Como foi dito acima, nos dois fragmentos, elementos da natureza metaforizam a sensualidade da mulher amada.
Alternativa B (Errada) – Em nenhum dos dois fragmentos, aborda-se a fidelidade do eu-lírico.
Alternativa C (Errada) – Nos fragmentos, principalmente no segundo, não se aborda a indiferença da mulher amada.
Alternativa D (Errada) – Os fragmentos não apresentam as qualidades morais da mulher amada.
Alternativa E (Errada) – Nos fragmentos, a mulher não é apresentada de forma exótica; além disso, nos versos de Álvares de Azevedo e José Godoy Garcia, a natureza não é construtiva do espaço; ela materializa, como foi dito, o desejo pela mulher amada.
2. (UFG – 2013/1) - Leia o fragmento do poema apresentado a seguir.
SPLEEN E CHARUTOS
I
SOLIDÃO
[…]
As árvores prateiam-se na praia,
Qual de uma fada os mágicos retiros...
Ó lua, as doces brisas que sussurram
Coam dos lábios teus como suspiros!
Falando ao coração que nota aérea
Deste céu, destas águas se desata?
Canta assim algum gênio adormecido
Das ondas moças no lençol de prata?
Minh'alma tenebrosa se entristece,
É muda como sala mortuária...
Deito-me só e triste, sem ter fome
Vejo na mesa a ceia solitária.
Ó lua, ó lua bela dos amores,
Se tu és moça e tens um peito amigo,
Não me deixes assim dormir solteiro,
À meia-noite vem cear comigo!
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Obra completa. Organização
de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 232.
Fenômeno recorrente na estética romântica, o processo de adjetivação permite ao eu lírico, no poema transcrito,
a) intensificar sua tristeza, ressaltando uma perspectiva pessimista da vida.
b) demarcar sua individualidade, expressando seu estado de espírito.
c) detalhar suas intenções amorosas, nomeando seus sentimentos.
d) descrever as coisas circundantes, apresentando uma visão objetiva da realidade.
e) revelar um sentimento platônico, enumerando as qualidades da amada.
Comentário:
Nos versos de Álvares de Azevedo transcritos acima, os adjetivos contribuem para a construção da subjetividade do eu-lírico; eles conferem pessoalidade, pois evidenciam as impressões do momento.
Alternativa A (Errada) – Nessa alternativa, o termo “uma perspectiva da vida” indica uma universalidade que não condiz com o poema. Nos versos, a temática é pessoal; não universal.
Alternativa B (Certa)
Alternativa C (Errada) – No texto, os adjetivos não detalham as intenções amorosas do eu-lírico. Além disso, o eu-lírico não nomeia seus sentimentos.
Alternativa D (Errada) – No poema, a visão é subjetiva, não objetiva.
Alternativa E (Errada) – No poema, não são enumeradas as qualidades da amada.
3. (IBMEC/2012)
Vagabundo
Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso;
Nas noites de verão namoro estrelas;
Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!
Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noite serenatas,
E quem vive de amor não tem pobrezas.
(...)
(Álvares de Azevedo)
A visão de mundo expressa pelo eu lírico nos versos de Álvares de Azevedo revela o(a)
a) desequilíbrio do poeta adolescente e indeciso, que não é capaz de amar uma mulher nem a si próprio.
b) valorização da vida boêmia que proporciona um outro tipo felicidade, desvinculada de valores materiais.
c) postura acrítica que o poeta tem diante da realidade, seja em relação ao amor, seja em relação à vida social.
d) lamento do poeta que leva a vida peregrina e pobre, sem bens materiais e nenhuma forma de felicidade.
e) constatação de que a música é o único expediente capaz de levá-lo à obtenção de recursos materiais.
Comentário:
Apesar de o Romantismo ser uma escola burguesa, alguns poemas de Álvares de Azevedo, principalmente na face caliban, adquirem uma postura antiburguesa. É o que acontece no poema acima; a valorização à vida boêmia e o desapego material constroem um discurso destoante em relação à sociedade da época. É claro que esse posicionamento condiz com uma arte adolescente, contrariada com o modo de vida e com o mundo adulto no século XIX. Diante disso, a alternativa correta é a B.
Alternativa A (Errada) – O eu-lírico não se apresenta como desequilibrado ou indeciso; ele sabe muito bem que tipo de vida quer levar. Além disso, os versos não abordam a incapacidade de amar.
Alternativa B (Certa)
Alternativa C (Errada) – Os versos não possuem uma postura acrítica. Ao contrário, como foi dito acima, o poema posiciona-se de forma contrária ao modo de vida burguês.
Alternativa D (Errada) – O eu-lírico não lamenta a vida que leva.
Alternativa E (Errada) – O poema não afirma o que diz a alternativa.
4. (UFJF MG/2011) - Considere o conceito de alusão abaixo, retirado do E-Dicionário de Termos Literários Carlos Ceia.
Alusão - Referência explícita ou implícita a uma obra de arte, um facto histórico ou um autor, para servir de termo de comparação, e que apela à capacidade de associação de ideias do leitor. O recurso à alusão literária testemunha a relação de um autor com a tradição que representa ou com a qual se identifica. (...) Só pelo processo de reconhecimento e/ou reidentificação desta relação por parte do leitor é que a alusão se pode tornar efetiva.
Explique a alusão a Ariel e Caliban, com base no fragmento abaixo, do prefácio à segunda parte da Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo.
Cuidado, leitor, ao voltar esta página!
Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos entrar num mundo novo, terra fantástica, verdadeira ilha Baratária de D. Quixote, onde Sancho é rei e vivem Panúrgio, sir John Falstaff, Bardolph, Fígaro e o Sganarello de D. João Tenório: — a pátria dos sonhos de Cervantes e Shakespeare.
Quase que depois de Ariel esbarramos em Caliban.
A razão é simples. É que a unidade deste livro funda-se numa binomia: — duas almas que moram nas cavernas de um cérebro pouco mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira medalha de duas faces.
(AZEVEDO, Álvares. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996)
Comentário:
O prefácio que abre a segunda parte de “Lira dos Vinte Anos”, escrito pelo próprio Álvares de Azevedo, mostra a consciência estética que o autor tem de seus versos. A alusão a Ariel e a Caliban intertextualiza-se com a obra “A tempestade”, de Shakespeare; é claro que a compreensão efetiva dessa intertextualidade, como diz o conceito de alusão, depende do conhecimento do leitor a respeito da obra original.
Em relação a “Lira dos Vinte Anos”, o termo Ariel (Anjo) refere-se aos poemas da primeira e da terceira partes, em que o eu-lírico mostra-se adolescente, romântico, angelical, idealizador. Diferentemente, Caliban (Demônio) relaciona-se à segunda parte, em que o eu-lírico torna-se sarcástico, cínico, antirromântico.
Essa dualidade é bastante interessante. Se por um lado, a poesia Ariel apresenta um eu-lírico ultrarromântico; por outro, a face Caliban, com seus versos satíricos, é antirromântica e chega, inclusive, para alguns críticos, a prenunciar a ironia modernista de Oswald de Andrade.
Percebeu? Álvares de Azevedo, apesar de ser um poeta de seu tempo, vai além desse tempo.
5. (PUC RJ/2010)
Despedidas à...
Se entrares, ó meu anjo, alguma vez
Na solidão onde eu sonhava em ti,
Ah! vota uma saudade aos belos dias
Que a teus joelhos pálido vivi!
Adeus, minh’alma, adeus! eu vou chorando...
Sinto o peito doer na despedida...
Sem ti o mundo é um deserto escuro
E tu és minha vida...
Só por teus olhos eu viver podia
E por teu coração amar e crer,
Em teus braços minh’alma unir à tua
E em teu seio morrer!
Mas se o fado me afasta da ventura,
Levo no coração a tua imagem...
De noite mandarei-te os meus suspiros
No murmúrio da aragem!
Quando a noite vier saudosa e pura,
Contempla a estrela do pastor nos céus,
Quando a ela eu volver o olhar em prantos
Verei os olhos teus!
Mas antes de partir, antes que a vida
Se afogue numa lágrima de dor,
Consente que em teus lábios num só beijo
Eu suspire de amor!
Sonhei muito! sonhei noites ardentes
Tua boca beijar eu o primeiro!
A ventura negou-me... até mesmo
O beijo derradeiro!
Só contigo eu podia ser ditoso,
Em teus olhos sentir os lábios meus!
Eu morro de ciúme e de saudade;
Adeus, meu anjo, adeus!
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. In: Grandes poetas românticos do Brasil.
São Paulo: LEP, Tomo 1, MCMLIX, p. 273
São Paulo: LEP, Tomo 1, MCMLIX, p. 273
a) A poética de Álvares de Azevedo filia-se a uma das fases mais representativas da literatura romântica no Brasil, o “mal-do-século” ou ultrarromantismo. Destaque duas características dessa fase presentes no poema, exemplificando a sua resposta com versos retirados do texto.
b) Percebe-se, no texto, a utilização de inúmeras figuras de linguagem como recurso expressivo. Destaque do poema de Álvares de Azevedo um exemplo de apóstrofe.
Comentário:
a) O poema apresenta várias características típicas do ultrarromantismo; a questão pediu que você apresentasse apenas duas. No entanto, como o objetivo é contribuir com o seu aprendizado, vamos colocar um número maior de exemplos. Por uma questão didática, esses exemplos foram enumerados de maneira esquemática:
· Hipérbole (exagero): “E em teu seio morrer!” e “ Se afogue numa lágrima de dor,”
· Subjetividade: “Adeus, minh’alma, adeus! eu vou chorando...” e “Eu morro de ciúme e de saudade;”
· Sonho (clima onírico): “Na solidão onde eu sonhava em ti” e “Sonhei muito! sonhei noites ardentes”
· Sofrimento: “Sinto o peito doer na despedida” e “Eu morro de ciúme e de saudade...”
· Solidão: “Na solidão onde eu sonhava em ti,” e “Adeus, minh’alma, adeus! eu vou chorando...”
b) De forma simplificada, pode-se dizer que apóstrofe é o vocativo na poesia; esse recurso é importante, inclusive, para a expressividade lírica, contribuindo com a ritmicidade dos versos. É o que se observa em: “Se entrares, ó meu anjo, alguma vez”; “Adeus, minh’alma, adeus! Eu vou chorando...”; “Adeus, meu anjo, adeus!”.
6. (Ufscar – 2010) - Leia o texto de Manoel Carlos.
Envelhecer já foi um milagre, um sonho e também uma sentença cruel. Nossos poetas românticos, por exemplo, almejavam a vida curta, cravejada de muita tosse, e olhos fundos, aureolados de acentuadas olheiras. E, quando a vida se estendia, sentiam-se traídos pelo Destino, envergonhados diante da posteridade. Consta mesmo que um deles, aos 22 anos, preocupado com a hora final que tardava a soar, declarava-se com 20 anos – a fim de ampliar a chance de ser colhido ainda na juventude. Acabou não desapontando ninguém, nem a si próprio. Foi ceifado aos 23 anos.
Não fosse o fim precoce de seus autores, a maior parte da poesia romântica não teria sido escrita. A maior e a melhor, porque em toda a obra de Álvares de Azevedo poucos poemas se comparam à beleza de Se Eu Morresse Amanhã. O poeta deu o último suspiro aos 20 anos.
(Veja, 15.07.2009.)
a) Identifique a vertente da literatura romântica brasileira referida no texto e aponte duas de suas características.
b) Leia o poema de Álvares de Azevedo, transcreva um fragmento e explique por que ele exemplifica as considerações sobre a literatura romântica brasileira apresentadas por Manoel Carlos.
Se Eu Morresse Amanhã!
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
Comentário:
a) O texto da Revista Veja faz referência à Segunda Geração da Poesia Romântica, chamada de byroniana ou de ultrarromântica. Marcada pelo mal-do-século, essa fase caracteriza-se pelo tom mórbido e pelo aspecto sombrio; o excesso de individualismo transforma tudo em sonho (onírico), em idealização. Assim, já que o amor e a felicidade são apenas imaginários, a vida no corpo torna-se insuportável, fazendo o eu-lírico desejar a morte como elemento de fuga (evasão / escapismo).
b) O poema “Se eu morresse amanhã”, de Álvares de Azevedo, exemplifica o que foi dito por Manoel Carlos. É o que fica claro nos versos “Quanta glória pressinto em meu futuro! / Que aurora de porvir e que manhã! / Eu perdera chorando essas coroas / Se eu morresse amanhã!”. Nessa estrofe, existe uma contemplação evocativa da própria morte; o eu-lírico, em sua autopiedade, imagina a falta que ele faria para a irmã e para a mãe; ele visualiza também a ideia de que a morte precoce anularia um futuro grandioso.
7. (UFMT/2009) Assinale a alternativa cujo enunciado caracteriza o Romantismo enquanto desenvolvimento temático e tratamento estilístico.
a) Observação da realidade marcada pelo senso quase fatalista das forças naturais e sociais pesando sobre o homem; estilo nervoso, capaz de reproduzir o relevo das coisas e sublinhar com firmeza a ação dos homens.
b) Criação de uma realidade abstrata e intangível, presa aos temas da morte e das paisagens vagas, impregnadas de misticismo e espiritualidade; ritmos musicais, aliterativos e sinestésicos.
c) Gosto pela expressão dos sentimentos, sonhos e emoções que agitam o mundo interior do poeta; abandono gradual da linguagem lusitana em favor da brasileira, tanto no vocabulário quanto nas construções sintáticas.
d) Representação objetiva da sociedade como meio de crítica às instituições sociais decadentes (igreja, casamento); linguagem narrativa minuciosa, acúmulo de detalhes para criar impressão de realidade.
e) Necessidade de romper com velhas formas na primeira fase do movimento, chocar o público com novas ideias; liberdade de criação como princípio fundamental, privilégio dado à inspiração.
Comentário:
Alternativa A (Errada) – Essas características adequam-se melhor ao Naturalismo.
Alternativa B (Errada) – Essas características adequam-se melhor ao Simbolismo. Apesar de os elementos dessa alternativa aproximarem-se também do Romantismo, recursos como “ritmo” e aliteração são mais utilizados pelo Simbolismo.
Alternativa C (Certa)
Alternativa D (Errada) – Essas características adequam-se melhor ao Realismo.
Alternativa E (Errada) – Na poesia romântica, a segunda fase, apesar de se diferenciar da primeira, não procura negá-la.
8. (UEM PR/2009) Leia o poema a seguir e assinale o que for correto.
A lagartixa
A lagartixa ao sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida,
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.
Amo-te como o vinho e como o sono,
Tu és meu copo e amoroso leito...
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Travesseiro não há como teu peito.
Posso agora viver: para coroas
Não preciso no prado colher flores;
Engrinaldo melhor a minha fronte
Nas rosas mais gentis de teus amores.
Vale todo um harém a minha bela,
Em fazer-me ditoso ela capricha...
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Como ao sol de verão a lagartixa.
(Álvares de Azevedo. In: Poesias completas)
01. Na primeira estrofe, o eu lírico se compara a uma lagartixa e os olhos da mulher amada equivalem ao sol. Assim como o sol é fonte de vida para a lagartixa, a mulher amada é fonte de vida para o eu lírico, como se comprova nesse verso: “O clarão de teus olhos me dá vida”.
02. O poema trata de um amor sereno, tranquilo. Não há conflitos emocionais, como frequentemente acontece na estética romântica, pois o sentimento do eu lírico é correspondido pela mulher amada.
04. De acordo com a segunda estrofe, o eu lírico está no leito de morte e é salvo pelo “néctar de amor” da amada. A imagem da mulher como o anjo salvador, imagem exclusiva da estética romântica, é perfeitamente mantida.
08. O verso “Tu és meu copo e amoroso leito” apresenta sentido metafórico. A mulher tanto propicia o inebrio do álcool (“copo”) quanto o sono agradável (“amoroso leito”).
16. A referência ao sol, às flores e à grinalda se explica pela valorização romântica do cenário natural, embora a amada seja vista como um ser que supera os atributos positivos da Natureza.
Comentário:
Item 01 (Certo) – É importante perceber que esse poema pertence à face Caliban de Álvares Azevedo; por isso a relação lagartixa / sol é irônica, sem a idealização típica do Romantismo.
Item 02 (Certo) - Uma característica da face Caliban é o amor carnal, possível.
Item 04 (Errado) – Na segunda estrofe, o termo “leito” associa-se ao prazer, não à morte.
Item 08 (Certo) – O verso citado metaforiza a proximidade física entre o eu-lírico e a mulher amada.
Item 16 (Certo) – Apesar de o poema ser Caliban, ele se utiliza de uma característica típica do romantismo, que é a valorização à natureza; mesmo assim, o “calor” da mulher amada supera os elementos naturais.
9. (UESPI/2009)
Descansem no meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma triste cruz e escrevam nela
- Foi poeta –sonhou- e amou na vida.
Nos versos de Álvares de Azevedo, notam-se características de qual tendência romântica?
a) Mal-do-século
b) Bucolismo
c) Crítica social
d) Nacionalismo
e) Indianismo
Comentário:
Alternativa A (Certa) – Os versos de Álvares de Azevedo pertencem à Segunda Fase da Poesia Romântica; essa geração é também conhecida como Mal-do-Século, caracterizada pelo pessimismo, pela evocação da morte.
Alternativa B (Errada) – O bucolismo é característica do Arcadismo.
Alternativa C (Errada) – Crítica social é característica, por exemplo, da Terceira Fase da Poesia Romântica.
Alternativa D (Errada) – O excesso de individualismo da Segunda Geração Romântico faz com que o sujeito poético esteja voltado para o próprio universo lírico; assim, esse exagero de subjetividade desconsidera, normalmente, o nacionalismo ufânico da Primeira Geração.
Alternativa E (Errada) – O indianismo é uma característica da Primeira Geração da Poesia Romântica.
10. (UFJF MG/2009) - Leia o poema de Álvares de Azevedo, abaixo, para responder à questão.
Pálida, à luz da lâmpada sombria.
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...
Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo.
AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas de Álvares de
Azevedo. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1985, p. 22.
A imagem feminina, conforme está predominantemente representada na primeira parte da obra Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo, está bem exemplificada no soneto citado. Considerando essa imagem, é CORRETO afirmar que a possibilidade de o poeta e a mulher amada constituírem família é:
a) nenhuma, pois a mulher está morta.
b) parcial, pois depende da submissão do poeta ao desejo da amada.
c) total, pois, segundo as convenções românticas, o amor sempre prevalece.
d) parcial, desde que o amor platônico seja realizado.
e) nenhuma, pois o poeta apenas representa seu desejo.
Comentário:
Alternativa A (Errada) – A justificativa está incorreta. A inacessibilidade amorosa não se deve ao fato de a mulher estar morta. Na verdade, o eu-lírico vê a mulher dormindo e a imagina morta.
Alternativa B (Errada) – A mulher é completamente inacessível.
Alternativa C (Errada) – A mulher é completamente inacessível.
Alternativa D (Errada) – A mulher é completamente inacessível.
Alternativa E (Certa)
11. Todas as características de estilo abaixo relacionadas pertencem à poesia do Romantismo, exceto:
a) o gosto pelo noturno, característica ligada à atmosfera de mistério.
b) o culto da teoria aristotélica da arte como imitação da natureza.
c) a predominância do sentimento sobre a razão.
d) a idealização da mulher, que aparece como figura poderosa.
e) a consciência da solidão, que expressa a inadaptação do artista ao mundo real.
Comentário:
Para responder a essa questão, é importante lembrar que as Escolas caracterizadas pelo aristotelismo são aquelas que retomam aspectos estéticos ligados à antiguidade clássica. O Romantismo, diferentemente, retoma a dimensão platônica (neoplatônica) da mentalidade medieval. Por isso, a alternativa correta é B.
12. (UEM PR/2008) Leia atentamente o poema abaixo e assinale o que for correto.
Meu Sonho
EU
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sangüenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?
Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso...
E galopas do vale através...
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?
Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?...
Tu escutas... Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?
Cavaleiro, quem és? – que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?
O FANTASMA
Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...
(Álvares de Azevedo. In: Poesias completas.)
01. O cenário do sonho é propício para os desabafos sentimentais do eu lírico. Nele, a presença do cavaleiro e do corcel remete a uma concepção árcade do espaço em que se situam.
02. No último terceto, o Fantasma se define como “sonho”, “febre” e “delírio”, características que indicam também a forte inquietação emocional do Eu. A resposta do Fantasma demonstra a impossibilidade do descanso sereno e aponta os males que levarão o Eu à morte.
04. O cenário e a ação se configuram como delírio. A visão que o eu lírico tem do cavaleiro se dá em um espaço sobrenatural, de pesadelo espectral e noturno, envolvendo a morte e um contexto gótico, o que vincula o poema à estética ultra-romântica.
08. O poema é composto por versos de nove sílabas e os acentos tônicos recaem, predominantemente, nas 3.ª, 6.ª e 9.ª sílabas. A cadência rítmica dos versos, ao mesmo tempo em que confere musicalidade ao poema, sugere o deslocamento do corcel.
16. As “trevas impuras” por onde galopa o cavaleiro e a “espada sangüenta” que ele traz na mão metaforizam a morte. Do mesmo modo, o Fantasma, tal como é descrito e como age, representa a ligação com a morte.
Comentário:
Item 01 (Errado) – Os versos não permitem uma localização espacial.
Item 02 (Certo) - Essas características são, inclusive, condizentes com a Segunda Geração da Poesia Romântica.
Item 04 (Certo) – Vale observar que o termo “gótico” remete ao norte da Europa medieval; esse contexto temático é idealizado pelo britânico Lord Byron, inspirador de nossa segunda geração.
Item 08 (Certo) – É importante, então, notar a ligação entre forma e conteúdo, pois o ritmo dos versos remete ao calvalgar do corcel.
Item 16 (Certo) – Essas temáticas, como já foi dito, são condizentes com o ultrarromantismo.
fonte : postado originalmente por, Professor Adriano Alves, disponivel em, 22/05/2016 em : professoradrianoalves.com/page_30.html ,clique e veja o post completo
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