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Pré-Modernismo - A obra de Lima barreto


retirado Equipe Passeiweb


Lima Barreto foi incansável crítico no que diz respeito ao processo de modernização do Brasil, ocorrido na virada do século XIX. Foi um inovador da literatura brasileira, com sua forma de escrever, e mesmo com os temas que aborda, uma vez que toda sua obra volta-se para uma crítica feroz à sociedade em geral, trazendo à tona o quotidiano do preconceito e marginalização social e racial. Lima Barreto pertence a uma geração de escritores preocupados com as questões sociais, que via na literatura uma forma de denunciar toda a hipocrisia reinante. Acreditava, pois, na literatura militante, uma vez que dava a ela o poder de “comunicar umas almas com as outras”, não podendo ainda esquecer que sua produção literária se encontrava no contexto das relações sociais vivas.
Nas primeiras décadas de 1900, as tendências críticas eram um reflexo das idéias positivistas/deterministas e cientificistas que dominaram o século anterior. A literatura não era vista somente como manifestação estética. Críticos e parnasianos incomodavam-se pois que Lima Barreto não usava um português casto, empregava a linguagem coloquial, tinha um estilo despojado. Seus personagens não seguiam o modelo vigente que impunha limites à criação e exaltava certas características psicológicas.

Opondo-se à linguagem acadêmica, ao retoricismo, ao beletrismo, à "arte pela arte", à "arte-evasão", Lima Barreto colocou-se contra a "moda" da "belle époque": o verbo encatatório e rebuscado de Coelho Neto, a solenidade de Rui Barbosa, o esteticismo estéril dos parnasianos e o purismo e elegância "britânica" de Machado de Assis.

Usou uma linguagem jornalística e até panfletária, mais interessado na enunciação e no conteúdo. Foi acusado de incorreção e mau-gosto; apontaram em seus livros freqüentes vícios de linguagem (solecismos, cacófatos, repetições). Contudo, essa língua gramaticalmente irregular reflete a própria dissonância espiritual de Lima Barreto com o estilo corrente da época. São "eroos" propositais, que não impedem o uso abrangente da linguagem para a comunicação militante de sua arte e nem elidem a habilidade de manipulação das palavras para a obtenção dos efeitos estéticos ou funcionais que a natureza dos textos exigisse.

Embora conhecesse os autores europeus da moda, Lima Barreto fugiu da influência francesa, preferindo aproximar-se dos autores russos como Tolstói, Turqueniev, e especialmente Dostoiévsky, cujo realismo tenso seguiu algumas vezes de perto e a quem alude ferqüentemente em Cemitério dos Vivos, livro que pretendia, como Recordações da Casa dos Mortos, do autor russo, caracterizar o ambiente nos hospícios, que conheceu nas duas vezes em que foi internado, em 1914 e 1919.

A obra de Lima Barreto, de temática social, beneficiou os pobres, os boêmios e os arruinados. Os problemas pessoais e as injustiças foram transportados para os seus livros. Ele sim, foi um crítico, o mais agudo da Velha República que, a seu ver, mantinha certos privilégios; e tentou também romper com o nacionalismo ufanista que imperava no Brasil.

A literatura produzida por Lima Barreto é fruto das condições sociais vigentes, dos conflitos; origina-se em meio às tensões sociais, nas quais estão impressas muitas realidades vividas, os sofrimentos, as alegrias. Lima Barreto, talvez por se sentir tão oprimido no seu quotidiano, via na literatura o espaço no qual podia se colocar por inteiro, não se preocupando com os padrões estéticos até então consagrados. Ele atribuía à literatura um poder muito especial, o poder de “comunicar umas almas com as outras”, ou seja, na literatura não havia espaço para meias verdades, para a hipocrisia; queria sim, desmascarar todas as contradições sociais, procurando traçar um perfil crítico do seu tempo.

Lima Barreto não queria destruir a sociedade a que ele pertencia, tão mesquinha e sofredora, mas ao contrário, queria transformá-la, mudá-la para uma
sociedade mais justa e humanitária. Acreditava que a literatura tinha o poder de transformação e sempre produziu um literatura social, o que ele dizia ser uma “literatura militante”.

A obra de Lima Barreto contribuiu para registrar a experiência de vários sujeitos sociais, com um passado impregnado de signos singulares, sendo
testemunho do modo de vida de pessoas comuns, trabalhadores com funções marginais, homens e mulheres portadores de experiências realizadas em tempos e
espaços diferenciados. Os anseios e as transformações sociais vividas contribuíram para o surgimento de um novo modo de viver, segundo o qual ninguém deveria estar totalmente excluído e submisso ao outro, em que, apesar da opressão vivida quotidianamente, ainda existia a possibilidade – ou talvez – de que dias melhores estavam por chegar.


A casa onde Lima Barreto morou dos 9 aos 21 anos
É freqüente a comparação entre Lima Barreto e Machado de Assis: ambos eram mulatos, nenhum dos dois completou sua educação escolar, tiveram trajetória pessoal semelhante, foram dontes (Machado, epilético; Lima Barreto, alcoólatra); tiveram ambos predileção ao problema da hipocrisia e das falsas apar~encias e escolheram o romance, a prosa de ficção para exprimir a si mesmos. Mas, na vida, estiveram situados em extremos opostos: Machado foi respeitado e aplaudido pelo "stablishment", conheceu a estabilidade econômica e a "imortalidade" ainda em vida; Lima Barreto jamais se libertou da discriminação e da penúria, visto por muitos como um "neurótico alcoólatra" que investia contra o burguês, porque "havia lido muito com os russos"; como um idealista sincero de segunda classe, que sabia produzir apenas "livros militantes e compreensíveis".

A imagem que se faz hoje de lima Barreto é a segunite, segundo Antônio Arnoni Prado:

(...) escritor claro e objetico que começava a pôr a literatura nas praças e nos botequins, nas ruas e nas fábricas, nos trens de subúrbio e nos morros do rio de Janeiro, inaugurando uma mobilidade em que o espaço e o tempo como que se desmistificavam, para se transformar em circunstância integrada à experiência do leitor. Viu-se, com ele, que o fluxo narrativo cedia lugar ao tom improvisado que misturava reportagem e testemunho, aproximando-se da reprodução quase instantânea que se multiplicava ao ritomo das coisas em movimento. Uma criação aleatória que surpreendia a quem estava acostumado a ver a matéria narrativa depender da observação que precedia a montagem. A surpresa aumentou quando se percebeu que, nos seus escritos, os assuntos não eram propriamente "narrados", mas apenas organizados, distanciando-se da pelnitude do "acontecer" ficcional que se instaura incontroverso e acabado. (...)

Poucos como ele souberam, na época, reconehecr a importância política da Revolução Russa de 1917 e sua visão acerca dos problemas sociais do pós-guerra era das mais lúcidas e penetrantes. Não chegou a ser marxista, deixando-se influenciar tanto pelo liberalismo spenceriano como pelo anarquismo de Kropotkine. Seus escritos, porém, manifestavam sempre a intenção sincera de libertar as massas, razão pela qual acabou sendo um dos partidários do maximalismo.
Há, contudo, contradições surpreendentes na "ideologia" de Lima Barreto: o iconoclasta de tabus, o demolidor da hipocrisia e o crítico mordaz da burguesia reacionária, detestava algumas formas típicas de modernizaçõa que o Rio de Janeiro conheceu nos primeiros decênios do século: o cinema, o futebol, o arranha-céu e, o que é mais grave, a própria ascensão profissional da mulher. O professor Alfredo Bosi anota que Lima Barreto chegava a preferir o regime monárquico ao republicano.

Vê-se nessas contradições uma reação natural do homem que, advindo da pequena classe média suburbana, reagia como suburbano, em termos de conservadorismo sentimental; a sua xenofobia filiava-se a um natural instinto étnico-social. A aversão aos homens e processos da República Velha explica-se pela ojeriza às oligarquias que tomaram o poder em 1889.